AUMGN

Retirado do Livro 4 de Mestre Therion.

 

Seria lucrativo fazermos um estudo um pouco detalhado da aparentemente estranha palavra AUMGN, pois sua análise permite um excelente exemplo dos princípios sobre os quais o Practicus pode se basear para construir suas próprias Palavras Sagradas.

Esta palavra foi prenunciada pelo MESTRE THERION como um meio de declarar seu trabalho pessoal como A Besta, o Logos do Æon. Para compreendê-la, devemos considerar preliminarmente a palavra que ela substitui e da qual foi desenvolvida: a palavra AUM.

A palavra AUM é o mantra sagrado hindu que foi o supremo hieróglifo da Verdade, um Compêndio da Ciência Sagrada. Muitos volumes foram escritos sobre ela; mas para nosso propósito no presente será suficiente explicar como ela veio a servir de representação para os principais dogmas filosóficos dos Rishis.

Antes de mais nada, ela representa o completo curso do som. É pronunciada forçando-se o alento, do fundo da garganta com a boca bem aberta, através da cavidade bucal, com os lábios colocados de maneira a modificar o som aos poucos de A para O (ou U), até que os lábios se fecham, quando o som se torna M. Simbolicamente, isto anuncia o curso da Natureza, começando de criação livre e informe, continuando através de preservação formada e controlada, até chegar ao silêncio da destruição. Os três sons são harmonizados em um e assim a palavra representa a tríade hindu de Brahma, Vishnu e Shiva, e a operação no Universo da triuna energia desses deuses. É, pois, que a fórmula de um Manvantara, ou período de existência manifestada, que se alterna com um Pralaya, durante o qual a criação está em estado latente.

Analisando cabalisticamente, a palavra demonstra possuir propriedades análogas às do dogma. A é o negativo, e também a unidade que se concentra o negativo em uma forma positiva. A é o Santo Espírito que engendra Deus na carne da Virgem, de acordo com a fórmula conhecida pelos estudantes do The Golden Bough. A é também o “Bebê no Ovo”, assim produzido. A qualidade de A é bissexual. É o ente original – Zeus Arrhenothelus, Baco Diphues, ou Baphomet.

 

U ou V é o filho manifestado, ele mesmo. Seu número é 6. Refere-se, portanto, a natureza dual do Logos como divino e humano; no entrelaçamento dos triângulos direito e oposto no Hexagrama. É o primeiro número do Sol, cujo último número é 666, “o número do homem”.

A letra M exibe o término deste processo. É o enforcado do Tarô; a formação individual do absoluto é concluída pela morte do individual.

Nós vemos, de acordo com isso, como AUM é, em qualquer dos dois sistemas, a expressão de um dogma que afirma catástrofe na natureza. É cognata com a fórmula do Deus Sacrificado. A “ressurreição” e “ascensão” não estão implicadas aqui. São invenções posteriores, sem base na necessidade natural; podem, em verdade, ser escritas como fantasmas freudianos, conjurados pelo medo de encarar a realidade. Para o hindu, em verdade, elas são ainda menos respeitáveis. Do ponto de vista indiano, a existência é essencialmente desagradável; e a principal preocupação do místico hindu é invocar Shiva para destruir a ilusão cuja opressão é a maldição do manvantara.

 

A revelação central do Grande Æon de Hórus é que esta fórmula AUM não representa os fatos da natureza. O Ponto de vista que AUM expressa está baseado sobre a falta de perspectiva quanto ao caráter da existência. Depressa se tornou claro ao MESTRE THERION que AUM era um hieróglifo inadequado e enganador. Expressava apenas parte da verdade, e insinuava uma falsidade fundamental. Consequentemente Ele modificou a palavra de maneira em que ela se tornasse capaz de representar os Arcanos desvelados pelo Æon do qual Ele é o Logos.

 

A tarefa essencial consistia em expressar o fato de que a natureza não é catastrófica: ela funciona através de ondulações. Poderia ser sugerido neste ponto que Manvantara e Pralaya são na verdade curvas complementares e, portanto, AUM expressa esse fato; mas a doutrina Hindu insiste categoricamente em negar continuidade entre as fases sucessivas, e a palavra expressa mostra a descontinuidade do dogma. Apesar disto, era importante evitar perturbar o arranjo trinitário da palavra, o que aconteceria pela adição de outras letras. Era igualmente importante tornar claro que a letra M uma operação que não ocorre realmente na natureza a não ser como um retiro dos fenômenos para dentro do absoluto; um processo que mesmo assim não é uma verdadeira destruição, mas, pelo contrário, é uma emancipação de qualquer coisa das modificações que ela tornara por si mesma. Ocorreu a Ele que a verdadeira função do Silêncio é permitir a vibração ininterrupta da energia ondulatória, livre das falsas concepções a ela adicionadas pelo ahamkara, ou a faculdade que cria o Ego, cuja suposição de individualidade consciente constitui existência e levou-a a considerar seu próprio caráter, aparentemente catastrófico, como sendo parte da Ordem natural.

 

A fórmula ondulatória de putrefação é representada na Cabala pela letra N, que se refere a Escorpião, cuja tripla natureza combina a Águia, a Serpente e o Escorpião. Estes hieróglifos indicam as fórmulas espirituais de encarnação. Ele estava tão ansioso por usar a letra G, outra tripla fórmula expressiva dos aspectos da Lua, que além do mais declara a natureza da existência humana da seguinte maneira: A Lua é em si um corpo sem luz; mas uma aparência luminosa lhe é comunicada pelo Sol; e é exatamente desta forma que encarnações sucessivas criam uma aparência, enquanto a estrela individual, que todo homem é, permanece ela mesma, mesmo sendo ou não percebida pelos olhares terrestres.

 

Ora, acontece que a raiz de GN significa conhecimento e geração combinados em uma ideia única, de uma forma absolutamente independente de personalidade. O G é uma letra silente, como em nossa palavra Gnose; e o som GN é nasal, sugerindo por tanto o alento de vida como o oposto àquele da fala. Impelido por estas considerações, O MESTRE THERION se propôs a substituir o M de AUM por uma letra composta MGN, simbolizando por esta a sutil substituição do aparente silêncio e morte que terminam a vida manifestada do Vau pela vibração contínua de uma energia impessoal, da natureza de geração e conhecimento; a Lua Virgem e a Serpente além do mais operando para incluir na ideia de comemoração daquela tradição tão grosseiramente deformada na lenda Hebraica do Jardim do Éden, e ainda mais rebaixada pela sua falsificação naquele malicioso ataque sectário, o Apocalipse.

Um trabalho em harmonia com a ordem natural das coisas é comprovado por corolários que não haviam sido procurados pelo cabalista. No caso presente, o MESTRE THERION ficou deleitado ao perceber que sua letra composta MGN, construída sob princípios teóricos a fim de incorporar as descobertas do Novo Æon, tinha o valos de 93 (M = 40, G = 3, N = 50). 93 é o número da palavra da Lei – Thelema – Vontade, e do AGAPÉ – Amor, que indica a natureza da Vontade. É além do mais o número da Palavra que vence a morte, como sabem os membros do Grau M.M. da O.T.O. e é também o número da fórmula completa da existência, qual expressada na Verdadeira Palavra do Neófito, onde existência é tomada como significando àquela fase do Todo que é a resolução finita do Zero Qabalístico.

 

Finalmente, a numeração total da Palavra AUMNG é 100, que como se ensina aos iniciados do Santuário da Gnose da O.T.O., expressa a unidade sob a forma de completa manifestação através do simbolismo de puro número, sendo Kether por Aiq Bkr; também Malkuth multiplicada por si mesma, e assim estabelecida no universo fenomênico. Mas, além disso, este número 100 misteriosamente indica a fórmula Mágica do Universo como uma máquina reverberatória para a extensão do Nada através de opostos equilibrados.

 

É além do mais o valor da letra Qoph, que significa “a parte de trás da cabeça”, o cerebelo, onde a força criadora ou reprodutiva está primariamente situada. Qoph no Tarô é “A Lua”, uma carta sugerindo ilusão, no entanto mostrando forças parciais e opostas operando na escuridão, e o Escaravelho Alado, ou Sol da Meia Noite, em seu barco, viajando através do Nadir. Sua atribuição Yetzirática é Peixes, símbolo das correntes positivas e negativas das energias fluídicas, o macho ichthus ou pesce, e a fêmea Vesica buscando respectivamente o ânodo e o cátodo. O número 100 é, portanto, um glifo sintético das sutis energias empregadas na criação da Ilusão, ou Reflexo da Realidade, que nós chamamos de existência manifestada.

 

O que vai acima são as principais considerações sobre o assunto de AUMGN. Deveriam ser suficientes para mostrar ao estudante os métodos empregados na construção dos hieróglifos da Magick, e para armá-lo com um mantra de tremendo poder, por virtude do qual ele pode aprender o Universo, e controlar em si mesmo as consequências Cármicas deste.